O negócio das fundações públicas de direito privado na Europa chama-se gestão empresarial.

Há muito tempo não se ouvia falar da influência portuguesa na gestão da coisa pública no Brasil. Na verdade essa influência teria cessado, conforme o ensino dos melhores historiadores, já no primeiro reinado. Depois de 188 anos de independência e mais de cem de república, parece que as coisas de além mar encontram-se novamente afinadas com os negócios públicos em terras da América.

Enquanto nas eleições presidenciais americanas entre em debate a criação de um amplo sistema público de saúde, em Portugal pensa-se em privatizar o que é público. E, pior, no Brasil também.

Tanto lá, quanto cá, os problemas da saúde pública ocupam com notícias negativas os minutos da televisão e do rádio e as páginas dos jornais mais lidos. Tanto lá, quanto cá, os políticos não pensaram ainda em encontrar a saída pela porta mais óbvia. A de construir uma política decente e coerente de gestão de pessoas que valorize o médico dentro do serviço público e o profissionalize, como já existe em outros cargos e carreiras. Tanto lá, quanto cá, há os que apontam a mira de suas garruchas para o dedão do pé e acham, ou tentam enganar a opinião pública dizendo que acharam, a solução do problema. E esta solução é a privatização do hospital público. Se funcionasse, não se construiriam pencas de hospitais privados apenas para atender convênios. Eles estariam alegremente atendendo indigentes e pessoas necessitadas. Mas a realidade é outra. E os nossos mágicos de plantão na saúde pública apontam o revólver para o próprio pé (do serviço público) e declaram que acharam a solução. Citam exemplos estrangeiros vencidos e de aplicação regional ou local em países que não tem parâmetros de comparação com o Brasil. O que é bom para o Brasil não será necessariamente bom em Bangladesh e o que parece excelente na Itália pode ser lixo no Brasil. Com todo o respeito aos graves problemas pelos quais passa a economia da república peninsular.

Também não queremos fazer alusão ao fato do Ministro Temporão ter nascido em terras lusitanas, isso não vem ao caso.

A coincidência é que lá estão transformando os hospitais públicos em estabelecimentos de gestão empresarial. Vai dar certo? A conferir. Aqui, a mesma idéia, se chama fundação pública de direito privado. Aqui como lá os sindicalistas refutam a idéia e os usuários duvidam do seu resultado. Sindicalistas e usuários demonstram, nessa questão, serem pessoas de bom senso. O mesmo não se pode dizer das equipes econômicas de lá e de cá.

Depois, quando tudo isso fracassar, eles descobrem uma outra saída mágica para enganar a opinião pública e continuar mantendo a saúde no último degrau do serviço público. Quem sabe proporão entregar a saúde a irmandades religiosas ou para algum outro tipo de entidade ou determinar, por decreto, que doentes não precisam de hospitais e nem de médicos, sendo responsáveis exclusivos por sua própria melhora.

Terão tempo para planejar outra maracutaia enquanto dura a primeira. E terão tempo de tecer outra idéia fracassada enquanto o povo ainda não perceber completamente a falsidade da primeira.

Os portugueses, ao menos, não passaram pela experiência lamentável que tivemos no Brasil do PÁS de Paulo Maluf e nem dos escândalos das fundações ligadas a universidade, que serviram até para comprar mobiliário de luxo para reitor. Aqui estão requentando um café já servido pela corrupção e pela ineficiência. Vão oferecer um desastre anunciado e previsível. Beira à irresponsabilidade.

Quem sabe, um dia não entendam o valor do conhecimento, sua verdadeira importância, a nobreza do conhecimento médico e não mudem o seu modo de ver as coisas. Até lá haverá, literalmente, sangue, suor e lágrimas.

Sobre a notícia dos estabelecimentos de gestão empresarial, o correspondente lusitano do negócio (ou negociata) das fundações públicas de direito privado no Brasil, você pode ler em:

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1007394

Ou na transcrição que fizemos abaixo:

Hospitais

Gestão empresarial para Hospitais da Universidade de Coimbra arranca hoje

Ontem às 07:46

Os Hospitais da Universidade de Coimbra passam a ter, a partir de hoje, gestão empresarial. Fernando Regateiro, o presidente dos HUC, diz que esta solução vai imprimir maior agilidade e eficácia aos serviços.

Presidente dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Fernando Regateiro, espera servir melhor os utentes

Fernando Regateiro explica que o capital estatutário definido para esta Entidade Pública Empresarial é de 108 milhões de euros numa dotação faseada

À polémica e às críticas, o presidente dos HUC responde com garantias. A transformação em Entidade Pública Empresarial não significará a redução de serviços, despedimentos ou aumento de preços.

A mudança «vai criar condições para servir melhor os utentes», garante Fernando Regateiro.

Na prática, o responsável considera que a gestão empresarial vai permitir maior agilidade e autonomia.

«Se podemos ter um instrumento que permite gerir melhor e obter mais eficiência vamos ter ganhos sem prejudicar a assistência», acrescenta.

Fernando Regateiro salienta ainda a necessidade de «concentrar as consultas externas num pavilhão, numa área própria que terá que ser construída», o que implica um investimento que irá agora acontecer.

O presidente dos HUC garante que é preciso aumentar a produtividade e oferta de serviços com o mesmo dinheiro e sem desperdícios.

«Podemos fazer mais sem aumentar significativamente a despesa», salienta.

Os Hospitais da Universidade de Coimbra realizam anualmente meio milhão de consultas. São os maiores do país em número de camas e cirurgias efectuadas.

O capital estatutário definido para esta Entidade Pública Empresarial é de 108 milhões de euros numa dotação faseada.

Também o Centro Hospitalar da Póvoa do Varzim e Vila do Conde, assim como o Hospital de Faro, passam a ter a partir desta segunda-feira gestão empresarial.

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Comentários

  • Alcides Pereira Leite Filho  On 11 -setembro- 2008 at 6:44 pm

    Prezados,

    Apoio em gênero, número e gráu as colocações feitas pelo exmo. sr. presidente do Sindicato dos Médicos de Juiz de Fora. Pena que ao que parece, as pessoas comuns e as não tão comuns, as teoricament “bem informadas” continuam a cair na arenga pessedebista, fantasiosa e irreal, que ao divulgar para os quatro cantos deste Brasil, que os serviços públicos de saúde e outros, funcionam mal pela sua condição estatutária, esquecem-se de falar, porquê as demandas do público nos Procons estaduais, consignam os famigerados “Convênios Médicos”.

    Adicionalmente,a equipe que me socorreu de meu IAM, no dia 09 de setembro do ano passado, era do HOSPITAL ARTHUR SABÓIA, uma entidade pública que me levou com vida para posterior colocação de um stent com a equipe do Dr. Waltinho, do HOSPITAL SÃO PAULO.

    Que tal, a gente fazer umas contazinhas, para saber quanto esta minha desventura, graças a Deus, sendo superada, custaria aos meus bolsos de aposentado ? Será que esse bando de hipócritas iria me pagar ? Sai fooooora !

    Atenciosamente,

    Adm. Prof. Alcides Pereira Leite Filho

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  • Alcides Pereira Leite Filho  On 11 -setembro- 2008 at 6:42 pm

    Prezados,

    Apoio em gênero, número e gráu as colocações feitas pelo exmo. sr. presidente do Sindicato dos Médicos de Juiz de Fora. Pena que ao que parece, as pessoas comuns e as não tão comuns, as teoricament “bem informadas” continuam a cair na arenga pessedebista, fantasiosa e irreal, que ao divulgar para os quatro cantos deste Brasil, que os serviços públicos de saúde e outros, funcionam mal pela sua condição estatutária, esquecem-se de falar, porquê as demandas do público nos Procons estaduais, consignam os famigerados “Convênios Médicos”.

    Adicionalmente,a equipe que me socorreu de meu IAM, no dia 09 de setembro do ano passado, era do HOSPITAL ARTHUR SABÓIA, uma entidade pública que me levou com vida para posterior colocação de um stent com a equipe do Dr. Waltinho, do HOSPITAL SÃO PAULO.

    Que tal, a gente fazer umas contazinhas, para saber quanto esta minha desventura, graças a Deus, sendo superada, custaria aos meus bolsos de aposentado ? Será que esse bando de hipócratas iria me pagar ? Sai fooooora !

    Atenciosamente,

    Adm. Prof. Alcides Pereira Leite Filho

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Trackbacks

  • Por Geraldo_Sette no diHITT em 2 -setembro- 2008 às 10:18 pm

    FUNDAÇÃO PÚBLICA DE DIREITO PRIVADO, NEGÓCIO OU NEGOCIATA?…

    A proposta de criar fundações públicas de direito privado para administrar patrimônio público no Brasil, em Portugal chama-se de gestão empresarial. No Brasil, há o agravante dessa experiência ter deixado marcas de ineficiência e corrupção. …

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