Arquivo do mês: dezembro 2019

Justiça manda Prefeitura de Rio Preto manter desconto de filiados de sindicato | DLNews

Na folha
O Sindicato dos Trabalhadores na Educação Municipal (Atem) conseguiu, por meio de recurso no Tribunal de Justiça (TJ), obrigar a Prefeitura a efetuar o desconto sindical diretamente na folha de pagamento dos servidores públicos que estiverem na alçada da associação. A decisão foi tomada no final da manhã desta quarta-feira (18).

Só no boleto
O processo quer anular o ato da Secretaria de Administração de Rio Preto, que comunicou aos dois sindicatos de servidores do município, associações profissionais e bancos que não vai mais descontar diretamente na folha de pagamento mensalidades de filiados a entidades representativas ou parcelas de financiamentos consignados junto a instituições financeiras a partir de janeiro de 2020.

Foi e voltou
O pedido de liminar foi feito pela Atem em primeira instância, mas negado pelo juiz Adílson Araki Ribeiro, da 1ª Vara da Fazenda Pública. No entanto, houve recurso para o Tribunal de Justiça e o desembargador José Luiz Gavião de Almeida concedeu o efeito suspensivo que obriga a prefeitura a, novamente, fazer o desconto em folha. O processo continua a tramitar em Rio Preto

https://riopreto.dlnews.com.br/noticias

Servidores do Espírito Santo vão à Justiça contra reforma da Previdência estadual

O Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Estado do Espírito Santo (Sindipúblicos) e a Pública Central do Servidor entraram com uma ação civil pública contra a Reforma da Previdência estadual.

A ação, com pedido de tutela provisória de urgência, questiona a tramitação da reforma da Previdência estadual na Assembleia Legislativa. O documento cita que os princípios constitucionais que regem a Administração Pública e o processo legislativo foram violados na aprovação da emenda à Constituição Estadual que apresentava a proposta de reforma

https://folhavitoria.com.br/economia/noticia/12/2019/servidores-do-espirito-santo-vao-a-justica-contra-reforma-da-previdencia-estadual

Servidores Municipais Realizam Protesto Em Natal; Ação Faz Parte Da Greve Da Saúde | Brasil de Fato

Nesta terça-feira (17), servidores públicos municipais da Saúde realizaram caminhada pelas ruas de Natal portando faixas e bandeiras. A mobilização teve como objetivo dialogar com a população sobre os motivos que levaram à deliberação da greve unificada que os trabalhadores estão realizando há 13 dias, bem como denunciar as más condições da saúde pública de Natal, sob a gestão do Prefeito Álvaro Dias.
A ação fez parte do calendário de atividades da greve, definido pelos servidores em assembleia na última quarta-feira (11). Está previsto novo ato-caminhada com concentração no Hospital Municipal nesta quinta-feira (19).

Segundo nota divulgada pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Natal (Sinsenat), as principais motivações para a greve são as condições precárias de trabalho e o não-pagamento das gratificações garantidas por lei. Além disso, os servidores também reivindicam a aplicação da data-base, implantação e pagamento dos quinquênios, mudanças de nível, adicionais, gratificações e convocação do cadastro reserva do último concurso.

De acordo com a assessoria do Sinsenat, existem servidores do município que há anos não recebem gratificações como quinquênios, insalubridade e transporte. Os servidores do último concurso não tiveram as gratificações implantadas, recebendo apenas o salário base. Já os servidores municipais enquadrados no Plano Geral, possuem uma decisão judicial que é descumprida desde outubro de 2018, que atualiza a matriz salarial defasada. São cerca de 8 mil servidores que recebem R$725 de salário base, abaixo do salário mínimo.

A greve é unificada e por tempo indeterminado. Além do Sinsenat, as demais entidades representativas dos servidores da saúde de Natal que estão no movimento são: Sindicato dos Enfermeiros do RN (Sindern), Sindicato dos Odontologistas do RN (Soern), Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do RN (Sindsaúde) e Sindicato dos Farmacêuticos do RN (Sinfarn).

Todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA), além de hospitais e maternidades, aderiram ao movimento grevista que iniciou oficialmente no dia cinco de dezembro.

https://www.brasildefato.com.br/2019/12/18/servidores-municipais-realizam-protesto-em-natal-acao-faz-parte-da-greve-da-saude/

Cai a produtividade do trabalho no Brasil

A queda da produtividade do trabalho no Brasil prova que o futuro da economia nacional é nebuloso.

Perdendo direitos e perdendo renda o trabalhador fica em situação mais desigual. O governo usa como argumento para justificar essa pauta de direita a alegação de que o trabalhador mais barato e com menos representatividade terá mais facilidade de conseguir um emprego qualquer. Milhões de brasileiros podem cair nessa situação.

Assim como nos governos Collor, FHC e Temer, a equipe econômica do governo Bolsonaro aposta numa agenda de ampla liberalização da economia brasileira para elevar o crescimento da produtividade.

Durante os governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a produtividade do trabalho teve um crescimento médio de 0,2% ao ano. Já nos governos Lula (2003-2010), a produtividade teve um crescimento médio de 2,2% ao ano, mais de dez vezes superior ao período FHC. No governo Dilma I (2011-14), o ritmo de crescimento da produtividade foi de 1,5% ao ano, e no governo Dilma II (2015-16), com a crise, a produtividade teve queda de 1,5% ao ano. A produtividade voltou a crescer no governo Temer (2017-2018), mas em um patamar bem menor, 0,6% ao ano, e agora em 2019, ela voltou a cair.

https://theintercept.com/2019/12/19/agenda-ultraliberal-paulo-guedes-produtividade/

As políticas de ajuste fiscal prejudicam o atendimento à saúde da população. Não à necropolítica!

O teto de gastos, imposto pelo governo dentro de políticas que já foram caracterizadas como de ajuste fiscal, causará danos ao nosso sistema público de saúde. Essa ameaça ao SUS é algo bem concreto e há evidente necessidade de uma aliança entre servidores do SUS e usuários para defender o sistema. Essa aliança em defesa do SUS tende a se fortalecer com a percepção de que o sistema está sendo prejudicado e enfraquecido.
Confira em http://sindicatoexpresso.blogspot.com/2019/11/ajuste-fiscal-diminuira-financiamento.html?m=1

O impasse pelo qual passa o sistema nacional de saúde do Reino Unido (NHS) deve ser analisado com muita atenção por nós, que também temos um sistema público universal de saúde que assiste a maioria dos brasileiros. Dr. Dráusio Varella já disse: “Sem o SUS, a barbárie.” Sim, o SUS é o oposto da necropolítica. Vamos passar aos impasses do sistema público do Reino Unido.

O primeiro constatado hoje é a falta de capacidade em atrair e fixar profissionais de saúde. Isso teve impacto negativo inicialmente nos serviços hospitalares.

“A falta de funcionários foi fundamental na deterioração da qualidade do serviço que, apesar de tudo, continua sendo bem avaliado nas pesquisas de satisfação dos pacientes.”

“Em primeiro lugar, porque os salários estão congelados há uma década, enquanto a libra desvalorizou significativamente desde a votação a favor do Brexit, em 2016, o que se traduziu em uma perda de poder aquisitivo. “

https://brasil.elpais.com/internacional/2019-12-11/exodo-pelo-brexit-agrava-a-crise-da-saude-publica-britanica.html

Um pai desesperado com a demora no procedimento da filhinha se dirige exaltado a políticos conservadores que visitam um hospital inglês:

“Vocês destruíram o NHS e agora vêm aqui apenas para fazer propaganda eleitoral”, reclamou o pai, abrindo um debate sobre saúde pública.

No hospital, a uma hora de ônibus a nordeste do centro de Londres, funcionários repetiram à Folha o que haviam dito à imprensa britânica na ocasião: a falta de profissionais e de equipamentos em uso é rotineira, e a espera para tomar analgésicos ou antibióticos pode chegar a 8 horas por falta de enfermeiros que os administrem.

https://www.gauchazh.clicrbs.com.br/mundo/2019/12/crise-dos-enfermeiros-marca-debate-eleitoral-sobre-sus-do-reino-unido.html

Argumentos pela privataria aparecem. Afinal, se o problema são
”orçamentos apertados, envelhecimento da população e contas de hospitais no vermelho são alguns dos problemas enfrentados pelo serviço gratuito”, a privatização seria a solução? Teriam os sistemas privados capacidade de garantir acesso a saúde da melhor qualidade para a maioria da população? A resposta será sempre um pouco não. A maioria das pessoas entende que Saúde não é mercadoria.

https://g1.globo.com/mundo/noticia/servico-de-saude-britanico-sofre-crise-humanitaria-diz-cruz-vermelha.ghtml

Prefeitura envia proposta para Sindicato encerrar a greve dos médicos – Guarulhos Hoje

Prefeitura encaminhou nesta segunda-feira uma nova proposta à categoria. A secretaria municipal de Saúde, Ana Cristina Kantzos, explicou que atenderá algumas reivindicações, como a nomeação de todos os médicos aprovados no último concurso em razão do déficit reconhecido por ambas as partes.

Nesta segunda-feira, apenas 19 médicos ainda aderiam ao movimento.
Fica definido que serão agendadas até quatro consultas por hora nas unidades de saúde para cada médico, para não prejudicar o atendimento. O Sindicato exigia atender menos pacientes, apenas três. A administração também informa que haverá o cumprimento de horário de almoço.

A Prefeitura aceita também não descontar os dias parados

https://www.guarulhoshoje.com.br/2019/12/17/prefeitura-envia-proposta-para-sindicato-encerrar-a-greve-dos-medicos/

Risco de privatização da água e do saneamento

A privatização da água e do saneamento é um dos objetivos do governo atual. Representa a realização das ideias do Ministro Paulo Guedes e será seguida por governadores que lêem a mesma cartilha. Mas isso trará algum benefício? Vamos nos informar.

“As cidades que privatizaram seus sistemas de saneamento voltaram atrás”, afirmou o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), citando cidades como Los Angeles (EUA), Atlanta (EUA), Paris (França), Berlim (Alemanha) e Budapeste (Hungria). Henrique Fontana (PT-RS), em seguida, citou ainda Buenos Aires (Argentina) e La Paz (Bolívia).”

https://revistaforum.com.br/politica/camara-vota-privatizacao-da-agua-e-do-saneamento/

“Pescadores de águas turvas” é uma série de cinco reportagens do Joio sobre a Medida Provisória 868. Ao longo das últimas semanas, reviramos documentos, conversamos com várias pessoas, assistimos a horas e horas de debates e audiências públicas.”

“Argumentos e estatísticas usados para defender o repasse geral do saneamento ao setor privado apresentam lacunas.”

https://outraspalavras.net/ojoioeotrigo/2019/05/voce-defende-a-privatizacao-da-agua-as-empresas-podem-nem-querer-a-sua-cidade/

“Mas, será que a população tem consciência da importância da água como riqueza natural para nossas vidas? O que acontece quando um país entrega o controle de suas águas para empresas privadas? A exploração da água como um bem para poucos é destrinchada no filme “O Verde Está do Outro Lado – Os donos da Água”, de Daniel A. Rubio, longa de estreia do diretor.”

https://www.fnucut.org.br/documentario-alerta-sobre-as-consequencias-da-privatizacao-da-agua-no-chile-no-brasil-e-no-mundo/

Redes sociais e política: a antipolítica, a pós-verdade e o efeito manada online

Redes sociais e política: a antipolítica, a pós-verdade e as manadas virtuais

A antipolítica tomou conta das redes sociais. E é perigosa. O fato de alguém possuir uma rede social não o torna jornalista. A pessoa não tem formação para proceder apuração de uma informação, não tem fontes para se informar de forma sistemática e organizada e não conhece as técnicas que o jornalista usa para publicar suas matérias. O assunto política é uma terra de ninguém. E muitos sempre apareceram para atribuir os piores adjetivos à classe política, atingindo políticos de todas as tendências e filiações partidárias. São, em geral, acusações genéricas, que misturam no mesmo saco toda a classe política e acabam atingindo as próprias instituições que permitem o funcionamento de uma sociedade democrática.

No início, já nos anos 90 do século passado, havia alguns estudos e alguns debates sobre a importância da Web, já se popularizando e tornando acessível, para a vida pública. Chegaram a achar que a democratização do acesso à Internet poderia constituir uma ágora eletrônica, aumentando a participação, a inclusão e a transparência na política. O acesso à Internet ainda não dispunha desses aplicativos de mensagens, de redes sociais ou de smartphones. Era caro e difícil. Não era comum as pessoas terem computadores pessoais, sendo o preço deles elevado e inacessível para a maioria. Mas havia entre alguns estudiosos e ativistas, uma expectativa, ingênua e bondosa, de que o acesso a Internet poderia ser democratizado e contribuir para o aperfeiçoamento da vida pública.

Uma análise dos resultados eleitorais de 2016, publicada no portal El País, informava que a antipolítica já avançava a passos largos no Brasil.

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/05/opinion/1475671551_641754.html

Os resultados da antipolítica foram consagrados dois anos depois. O “tem que mudar tudo isso aí”, o novo e a renovação, consagrado pela volta das velhas ideias, da exaltação de um passado pouco recomendado. Não era o fim da política. Era a mesma peça representada por outros atores.

https://diplomatique.org.br/bolsonaro-e-a-antipolitica/

*Talvez a antipolítica seja mais sentimento (ou ressentimento) do que razão. Suas razões parecem, na verdade, racionalizações.

Em entrevista ao Estadão, Jairo Nicolau, cientista político, professor da URFJ e especialista em sistemas eleitorais, disse:
“O partido é uma organização que se tornou cada vez menos atraente. Não só no Brasil. Esse fenômeno é mundial. Nas democracias tradicionais, o número de pessoas filiadas a partidos declina anualmente. Partido, como conhecemos, foi inventado no século 19, teve seu apogeu como organização de comunicação política no século passado. Estamos no século da interação online, as pessoas podem fazer um grupo nas redes sociais, blogs, e comunicam-se com centenas, às vezes milhares, de pessoas. Defendem causas, oferecem cursos, compartilham documentos, conversam entre si. Por que vão sair de casa uma vez por semana para uma reunião na sede do partido? A militância presencial, clássica, cultivada pela esquerda do século 19 e pelos partidos de massa, parece fadada a acabar.”
A entrevista está em:
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,sentimento-antipolitica-esta-maior-imp-,1560340

Essa mudança, já bem notada, do presencial para o ambiente virtual, tem um impacto nas relações interpessoais e na vida pública. Há bolhas construídas dentro dessas redes sociais que reafirmam opiniões e crenças de seus participantes e vão se tornando impermeáveis à diferença, aos senões, nuances, dúvida razoável e mesmo ao contraditório.

Aqui funciona o comportamento de manada, muito bem explicado em série de reportagens da BBC Brasil.

A manada virtual pode ser manipulada com base em objetivos políticos. Empresas usam isso para faturar e políticos e empresários usam o recurso para dinamitar adversários e capitalizar votos. Essa matéria foi exonerada em uma série de ótimas reportagens feitas pela BBC Brasil.”

“Evidências reunidas por uma investigação da BBC Brasil ao longo de três meses, que deram origem à série Democracia Ciborgue, da qual esta reportagem faz parte, sugerem que uma espécie de exército virtual de fakes foi usado por uma empresa com base no Rio de Janeiro para manipular a opinião pública, principalmente, no pleito de 2014. E há indícios de que os mais de 100 perfis detectados no Twitter e no Facebook sejam apenas a ponta do iceberg de uma problema muito mais amplo no Brasil.”

“O conceito faz referência ao comportamento de animais que se juntam para se proteger ou fugir de um predador. Aplicado aos seres humanos, refere-se à tendência das pessoas de seguirem um grande influenciador ou mesmo um determinado grupo, sem que a decisão passe, necessariamente, por uma reflexão individual.”

“A estratégia que vem sendo usada por perfis falsos no Brasil e no mundo para influenciar a opinião pública nas redes sociais se aproveita de uma característica psicológica conhecida como “comportamento de manada”.

“Se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso”, diz Fabrício Benevenuto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobre a atuação de usuários nas redes sociais.”
Matéria publicada no portal da BBC
http://bbc.in/2BZRKYU

A manada vai toda na mesma direção. E ainda tem sua relação com a realidade e os fatos comprometidas pela pós-verdade. A pós-verdade está na essência dessas bolhas.

Em sábias palavras e com referências sábias o teólogo Leonardo Boff analisou a pós-verdade em ótimo artigo. Aqui destacamos alguns trechos.

“O dicionário Oxford de 2016 a escolheu como a palavra do ano. Assim a define:”O que é relativo a circunstância na qual os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e crenças pessoais”. Não importa a verdade; só a minha conta. O jornalista britânico Matthew D’Ancona dedicou-lhe todo um livro com o título “Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news (Faro Editorial 2018). Ai mostra como se dá a predominância da crença e convicção pessoal sobre o fato bruto da realidade.”

“É doloroso verificar que toda a tradição filosófica do Ocidente e do Oriente que significou um esforço exaustivo na busca da verdade das coisas, sendo agora invalidada por um inaudito movimento histórico que afirma ser a verdade da realidade e da dureza dos fatos algo irrelevante. O que conta serão minhas crenças e convicções: só serão acolhidos aqueles fatos e aquelas versões que se coadunam à estas minhas crenças e convicções, sejam elas verdadeiras ou falsas.”

“Aqui valem as palavras do poeta espanhol, António Machado, fugido da perseguição de Franco:”A tua verdade. Não. A verdade. A tua guarde-a para ti. Busquemos juntos a verdade”. Agora vergonhosamente não se precisa mais buscar juntos a verdade. Educados como individualistas pela cultura do capital, cada um assume como verdade a que lhe serve.”

“Na pós-verdade predomina a seleção daquilo, verdadeiro ou falso, que se adequa à minha visão das coisas. O defeito é a falta de crítica e de discernimento para buscar o que de fato é verdadeiro ou falso.”

O artigo foi publicado em:
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-pos-verdade-socrates-morreria-de-tristeza-por-leonardo-boff/

A Internet permitiu criar uma massa de manobra difusa, uma multidão virtual confusa, que, os fatos o demonstram, pode servir ao apelo populista e demagógico de extremistas e fazer com que uma pessoa, enredada na manada e iludida pela pós-verdade, se posicione até mesmo contra seus próprios interesses econômicos e sociais.

Redes sociais e política: a antipolítica, a

Redes sociais e política: a antipolítica, a pós-verdade e as manadas virtuais

A antipolítica tomou conta das redes sociais. E é perigosa. O fato de alguém possuir uma rede social não o torna jornalista. A pessoa não tem formação para proceder apuração de uma informação, não tem fontes para se informar de forma sistemática e organizada e não conhece as técnicas que o jornalista usa para publicar suas matérias. O assunto política é uma terra de ninguém. E muitos sempre apareceram para atribuir os piores adjetivos à classe política, atingindo políticos de todas as tendências e filiações partidárias. São, em geral, acusações genéricas, que misturam no mesmo saco toda a classe política e acabam atingindo as próprias instituições que permitem o funcionamento de uma sociedade democrática.

No início, já nos anos 90 do século passado, havia alguns estudos e alguns debates sobre a importância da Web, já se popularizando e tornando acessível, para a vida pública. Chegaram a achar que a democratização do acesso à Internet poderia constituir uma ágora eletrônica, aumentando a participação, a inclusão e a transparência na política. O acesso à Internet ainda não dispunha desses aplicativos de mensagens, de redes sociais ou de smartphones. Era caro e difícil. Não era comum as pessoas terem computadores pessoais, sendo o preço deles elevado e inacessível para a maioria. Mas havia entre alguns estudiosos e ativistas, uma expectativa, ingênua e bondosa, de que o acesso a Internet poderia ser democratizado e contribuir para o aperfeiçoamento da vida pública.

Uma análise dos resultados eleitorais de 2016, publicada no portal El País, informava que a antipolítica já avançava a passos largos no Brasil.

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/05/opinion/1475671551_641754.html

Os resultados da antipolítica foram consagrados dois anos depois. O “tem que mudar tudo isso aí”, o novo e a renovação, consagrado pela volta das velhas ideias, da exaltação de um passado pouco recomendado. Não era o fim da política. Era a mesma peça representada por outros atores.

https://diplomatique.org.br/bolsonaro-e-a-antipolitica/

*Talvez a antipolítica seja mais sentimento (ou ressentimento) do que razão. Suas razões parecem, na verdade, racionalizações.

Em entrevista ao Estadão, Jairo Nicolau, cientista político, professor da URFJ e especialista em sistemas eleitorais, disse:
“O partido é uma organização que se tornou cada vez menos atraente. Não só no Brasil. Esse fenômeno é mundial. Nas democracias tradicionais, o número de pessoas filiadas a partidos declina anualmente. Partido, como conhecemos, foi inventado no século 19, teve seu apogeu como organização de comunicação política no século passado. Estamos no século da interação online, as pessoas podem fazer um grupo nas redes sociais, blogs, e comunicam-se com centenas, às vezes milhares, de pessoas. Defendem causas, oferecem cursos, compartilham documentos, conversam entre si. Por que vão sair de casa uma vez por semana para uma reunião na sede do partido? A militância presencial, clássica, cultivada pela esquerda do século 19 e pelos partidos de massa, parece fadada a acabar.”
A entrevista está em:
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,sentimento-antipolitica-esta-maior-imp-,1560340

Essa mudança, já bem notada, do presencial para o ambiente virtual, tem um impacto nas relações interpessoais e na vida pública. Há bolhas construídas dentro dessas redes sociais que reafirmam opiniões e crenças de seus participantes e vão se tornando impermeáveis à diferença, aos senões, nuances, dúvida razoável e mesmo ao contraditório.

Aqui funciona o comportamento de manada, muito bem explicado em série de reportagens da BBC Brasil.

A manada virtual pode ser manipulada com base em objetivos políticos. Empresas usam isso para faturar e políticos e empresários usam o recurso para dinamitar adversários e capitalizar votos. Essa matéria foi exonerada em uma série de ótimas reportagens feitas pela BBC Brasil.”

“Evidências reunidas por uma investigação da BBC Brasil ao longo de três meses, que deram origem à série Democracia Ciborgue, da qual esta reportagem faz parte, sugerem que uma espécie de exército virtual de fakes foi usado por uma empresa com base no Rio de Janeiro para manipular a opinião pública, principalmente, no pleito de 2014. E há indícios de que os mais de 100 perfis detectados no Twitter e no Facebook sejam apenas a ponta do iceberg de uma problema muito mais amplo no Brasil.”

“O conceito faz referência ao comportamento de animais que se juntam para se proteger ou fugir de um predador. Aplicado aos seres humanos, refere-se à tendência das pessoas de seguirem um grande influenciador ou mesmo um determinado grupo, sem que a decisão passe, necessariamente, por uma reflexão individual.”

“A estratégia que vem sendo usada por perfis falsos no Brasil e no mundo para influenciar a opinião pública nas redes sociais se aproveita de uma característica psicológica conhecida como “comportamento de manada”.

“Se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso”, diz Fabrício Benevenuto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobre a atuação de usuários nas redes sociais.”
Matéria publicada no portal da BBC
http://bbc.in/2BZRKYU

A manada vai toda na mesma direção. E ainda tem sua relação com a realidade e os fatos comprometidas pela pós-verdade. A pós-verdade está na essência dessas bolhas.

Em sábias palavras e com referências sábias o teólogo Leonardo Boff analisou a pós-verdade em ótimo artigo. Aqui destacamos alguns trechos.

“O dicionário Oxford de 2016 a escolheu como a palavra do ano. Assim a define:”O que é relativo a circunstância na qual os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e crenças pessoais”. Não importa a verdade; só a minha conta. O jornalista britânico Matthew D’Ancona dedicou-lhe todo um livro com o título “Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news (Faro Editorial 2018). Ai mostra como se dá a predominância da crença e convicção pessoal sobre o fato bruto da realidade.”

“É doloroso verificar que toda a tradição filosófica do Ocidente e do Oriente que significou um esforço exaustivo na busca da verdade das coisas, sendo agora invalidada por um inaudito movimento histórico que afirma ser a verdade da realidade e da dureza dos fatos algo irrelevante. O que conta serão minhas crenças e convicções: só serão acolhidos aqueles fatos e aquelas versões que se coadunam à estas minhas crenças e convicções, sejam elas verdadeiras ou falsas.”

“Aqui valem as palavras do poeta espanhol, António Machado, fugido da perseguição de Franco:”A tua verdade. Não. A verdade. A tua guarde-a para ti. Busquemos juntos a verdade”. Agora vergonhosamente não se precisa mais buscar juntos a verdade. Educados como individualistas pela cultura do capital, cada um assume como verdade a que lhe serve.”

“Na pós-verdade predomina a seleção daquilo, verdadeiro ou falso, que se adequa à minha visão das coisas. O defeito é a falta de crítica e de discernimento para buscar o que de fato é verdadeiro ou falso.”

O artigo foi publicado em:
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-pos-verdade-socrates-morreria-de-tristeza-por-leonardo-boff/

A Internet permitiu criar uma massa de manobra difusa, uma multidão virtual confusa, que, os fatos o demonstram, pode servir ao apelo populista e demagógico de extremistas e fazer com que uma pessoa, enredada na manada e iludida pela pós-verdade, se posicione até mesmo contra seus próprios interesses econômicos e sociais.

O desmatamento decorre da desvalorização de órgãos ambientais

Desmonte de órgãos ambientais e de políticas públicas neste governo está causando aumento no desmatamento e queimadas em áreas protegidas.
O desmatamento da Amazônia em áreas protegidas (unidades de conservação federais e estaduais) e em terras indígenas, onde, por lei, não poderia ocorrer retirada da floresta, foi ainda maior do que a média registrada em todo o bioma no último ano.

https://jovempan.com.br/noticias/brasil/desmatamento-em-unidades-protegidas-sobe-84-e-supera-media-de-toda-a-amazonia.html